Manifesta

CULTURA EM ESTADO DE CONFERÊNCIA

Em meio à pandemia e ao pandemônio, como resposta viva à política da morte e da ignorância, se levantou no Brasil um estado permanente de emergência cultural.

No ano de 2020, em torno da Lei Aldir Blanc, aconteceu o grande movimento social das culturas, mobilizando todo o campo cultural brasileiro, reunido em estado permanente de conferência. Realizamos dezenas de encontros, diálogos nacionais e conferências populares municipais, estaduais, regionais, setoriais e temáticas.

A partir desse estado permanente conferência, o setor cultural alcançou a execução dessa lei histórica e vem consolidando mais duas leis: a LAB 2 e a Lei Paulo Gustavo.

As culturas resistem, reúnem, revivem, revelam, mobilizam, dizem quem somos e o que queremos da vida. A cultura convida o Brasil a re-existir, a se reencontrar.

Estamos numa linha direta com a Confederação dos Tamoios, a Guerra dos Bárbaros dos Índios Kariris, o Quilombo dos Palmares, a Revolta dos Malês, a casa da Tia Ciata, a Semana de Arte Moderna de 22, o Tropicalismo, o Mangue Beat, as marchas das Margaridas, dos povos indígenas e dos trabalhadores sem-terra, sem teto e de muitos outros movimentos e revoltas populares do Brasil.

Invocamos nossos ancestrais e caminhamos juntos com os povos indígenas, o povo negro e todo os povos que nos compõe (que nos faz brasilieir)

O que se quer só faz sentido se puder ser expressão de nossa diversidade étnica, regional, social, artística, identitária e de gênero; se for inclusiva, solidária e plural.

O discurso de posse de Gilberto Gil no MinC ainda faz pulsar nosso pensamento e o que somos:

“Cultura como tudo aquilo que, no uso de qualquer coisa, se manifesta para além do mero valor de uso. Cultura como usina de símbolos de um povo. Cultura como o sentido de nossos atos, a soma de nossos gestos, o senso de nossos jeitos”

 

É pela cultura que nos posicionamos como nação. Pela cultura poderemos mostrar ao mundo uma nova maneira de ser e de nele estar, contribuir com novos sentidos e significados para a vida.

Ao Brasil ainda cabe um papel transformador rumo a uma sociedade emancipatória onde prevaleça a justiça social.

Temos um legado. E dele faz parte o Ministério da Cultura que queremos de re-volta. Não por acaso sua criação em 1985 coincide com a redemocratização do país. Desde lá e por meio de amplas conferências, muito foi debatido e deliberado coletivamente e com alto grau de representatividade em todos os aspectos da vida social e cultural do Brasil.

Em 2016, com o golpe à democracia brasileira, iniciou-se o desmonte do Ministério da Cultura e sua extinção completa em 2019.

Ainda assim, muito do que se construiu existe e resiste à fúria destruidora de agora. O Sistema Nacional de Cultura, os Pontos e os Pontões de Cultura criaram raízes em muitos lugares do país.

As políticas de participação social, de cidadania e diversidade cultural, de apoio aos griôs e mestres da cultura, de fomento às artes, de incentivo à leitura e ao direito autoral, de promoção das expressões do patrimônio cultural e da memória, produziram desdobramentos inimagináveis em distintos territórios do Brasil.
Urge recuperarmos o pacto democrático que nos permitiu avançar nas políticas culturais.

Precisamos interromper e recuperar o desmonte em curso.
Precisamos dessa convergência em defesa de todos os modos de vida e do pleno exercício da cidadania cultural, em defesa da saúde, do trabalho, do meio ambiente, da educação, dos direitos humanos, da diversidade, da democracia e da livre expressão de pensamento. Nisto se inclui a convivência democrática e sustentável com os recursos naturais e o acesso à terra, tanto quanto aos meios de comunicação.

Nesses tempos que correm, as artes e a cultura devem assumir um papel político central. São elas as dimensões vitais para a reinvenção do mundo e da vida em sociedade.

Precisamos reativar o do-in antropológico com a potência solidária do Brasil.
Em estado de conferência, a cultura brasileira é convocada a reunir-se novamente.

Convocamos todas, todos e todes para o primeiro encontro presencial da Conferência Popular de Cultura, em abril de 2022 na Nave Coletiva em São Paulo.

 

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